O fim do
ano é o momento mais propício para se olhar para o tempo passado,
se pensar nos momentos vividos até aqui, avaliar um por um, e,
então, planejar os próximos passos, com mais confiança e esperança
nos acertos vindouros.
Apesar de
tantas violações aos Direitos Humanos em 2012, os processos de
fortalecimento das lutas, integração das identidades e publicização
das conquistas aconteceram. Marcaram a vida de muitos brasileiros e
ficarão na memória de todos que andam aos passos da mudança.
Para
exercitar nossa memória, citarei alguns acontecimentos marcantes
aqui na Paraíba. Acontecimentos que, apesar de dolorosos,
organizaram pessoas para a reconstrução de um novo ano, sem os
mesmos desafios; pessoas prontas para impedir que novas injustiças
semelhantes aconteçam e fazer valer toda a caminhada de 2012, para
além de 2013.
Temos o
caso de Enver José - processado injustamente pelos empresários de
ônibus da capital-, perseguição política notória por ter
liderado centenas de estudantes em passeatas, pacíficas, contra o
abuso de poder e excessivo aumento das passagens de ônibus sem a
contraprestação de melhores serviços. Hoje, depois de ter várias
audiências remarcadas, percorrendo o ano inteiro nessa angústia,
Enver foi absolvido.
Os índios
Tabajaras continuam cercados pela empresa Elizabeth. No início deste
ano, foi relatado ao Ministério Público Federal casos de violência
privada, sob o comando da empresa, a qual ameaçou, por meio de força
física e psicológica, os índios a se retirarem de suas próprias
terras. Os índios continuam na mesma situação de insegurança.
A chamada
reurbanização do Bairro São José não aconteceu. Os moradores do
bairro conseguiram barrar o projeto inicial, colocado de cima pra
baixo, sem diálogo, sem construção com eles - os principais
envolvidos. O projeto ameaçava a destruição de algumas casas, a
remoção de algumas famílias, a troca de uma casa de grandes
dimensões por outra de tamanho padrão e muito menor.
Um caso de
repercussão nacional foi o estupro coletivo de 05 mulheres na cidade
de Queimadas, no interior da Paraíba. Foi um crime planejado com
antecedência, numa cidade em que não é raro as mulheres sofrerem
tanta violência. As audiências de julgamento já aconteceram, a
reparação para as famílias das vítimas nunca se concretizará. No
último dia 04 de Dezembro, mulheres do Campo e da Cidade reuniram-se
no centro da nossa capital, em memória das mulheres que sofreram
violência e em luta por políticas públicas que concretizem a
proteção à vítima.
Por
último, relembro o despejo de mais de 40 famílias da favela do
Gadanha, próxima à bica, que estavam em seus barracos num terreno
abandonado e foram despejados pela força policial, sob o comando da
prefeitura municipal. Mulheres e crianças de colo, jovens e adultos
foram atirados novamente à rua. Hoje vivem sob outra ameaça de
despejo, moram numa escola abandonada no centro da cidade, nenhuma
política de reparação é oferecida, apenas chegam ameaças.
O tempo
por si é pedagógico, por isso é importante olhar para todos esses
acontecimentos do ano. Aprendemos com as experiências passadas e por
isso realizaremos novas conquistas.
E em
memória de tantas pessoas sofredoras deste 2012, é que devemos
planejar o nosso 2013. Não nos contentaremos com a fé de que as
coisas serão resolvidas logo, mas sim com o compromisso de estar ao
lado dos que lutam, com eles dividindo os próximos passos, no
objetivo comum de um próspero ano novo.
Liziane
Correia é estudante de Direito da UFPB e do Núcleo de Extensão
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