quarta-feira, 14 de março de 2012

Nem ir nem vir: a ameaça ao movimento


Nem ir nem vir: a ameaça ao movimento


É o que está dado e num duplo sentido. O primeiro, já sentido por muitos, é o financeiro: aumentos anuais da tarifa do transporte público. É a primeira ameaça. É que este público está do outro lado da catraca.
Para ser público do transporte tem que ter dinheiro. E não é pouco dinheiro, podem fazer as contas. E quanto mais caro o serviço, menos acesso a população tem ao trabalho, à escola e aos espaços de lazer, enfrentando, também, a demora dos ônibus, as superlotações, os engarrafamentos etc. etc. Afinal, direito de ir e vir podem alegar que todos nós temos. Mas, na realidade dura, só vai e vem quem tem dinheiro. Isto quer dizer que o que era pra ser direito virou um serviço, pelo qual pagamos caro. Um serviço mal prestado e muito mal fiscalizado.
O segundo sentido que nos ameaça aconteceu quando os usuários das linhas de ônibus decidiram lutar por seu verdadeiro direito de ir e vir, através do chamado Movimento Contra o Aumento JP. Lembram-se das manifestações populares agitadas que aconteceram pelo Brasil, dos movimentos contra o aumento das passagens de ônibus, das populações das cidades que entenderam que estavam sendo roubados por pouquíssimos empresários que controlam as redes de transporte do país? Pois é, em João Pessoa aconteceu tudo bem diferente. Mais especificamente, me refiro a 2010, ocasião em que os estudantes da UFPB se organizaram para protestar contra o aumento das passagens. Eram caminhadas pacíficas nas ruas do centro, fechamento de apenas uma faixa nas vias duplas, cartazes, panfletagem e constante diálogo com a população, uma espécie de conscientização sobre direitos.
Neste mesmo ano, os Empresários do Transporte de Ônibus Coletivo, numa tentativa de frear o Movimento Contra o Aumento JP, processaram uma das lideranças populares (que era estudante de Geografia da UFPB e hoje mestrando) Enver Cabral. Ele foi o principal contato das mídias para falar de alguns tópicos imprescindivelmente esclarecedores à população em 2010. Ele conseguiu, por exemplo, estudar porcentagens que provam que a tarifa do transporte público de João Pessoa deveria ser bem menor.
No final de Março, este estudante, defensor do direito humano à mobilidade, responderá injustamente a dois Processos Criminais, o acusam de manejar explosivos contra a população usuária do transporte público e de ter lesionado um trabalhador, motorista de ônibus. A mensagem que receptamos é simples: Ou nos pagam ou não se movimentam. Ou se calam ou são presos.
O público das empresas de ônibus é constantemente ameaçado. É vítima aquele e aquela que usa o transporte coletivo de ônibus de João Pessoa, que paga por um direito básico de movimentar-se dentro de sua cidade, com um alto custo em detrimento de outras despesas essenciais, como alimentação, vestuários e medicamentos. É vítima o Movimento que organiza essa população para lutar por seus direitos.
O que vamos fazer?



Liziane Correia - Estudante Universitária e Usuária do serviço de Transporte de Ônibus Coletivo