terça-feira, 21 de agosto de 2012

As greves e o trabalho de Sísifo


As greves e o trabalho de Sísifo

O Governo, numa espécie de tortura psicológica coletiva, empurra as possibilidades de negociação com os professores das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) contra a parede do prazo do ano orçamentário. Quanto mais próximos do fim de Agosto, mais os estudantes e a sociedade civil ficam irritados: ora com o Governo, ora com os Docentes. Trata-se de uma mistura confusa de indignação com o descaso com a Educação Superior somada à desinformação (ou desinteresse) da mídia que nos confunde a partir de porcentagens, gráficos, falsas negociações etc.
Falar em Greves significa conversarmos sobre categorias de trabalhadoras e trabalhadores que se preocupam com, em primeiro plano, a desvalorização de sua profissão do ponto de vista salarial, seguida de uma desvalorização da importância de sua carreira dentro de um contexto social e econômico. Lembrem: falamos de Educação Superior e de Instituições Públicas.
A reação não poderia ser outra: temos 52 IFES (de 57) com docentes em Greve. Fora outras 18 categorias de trabalhadores em Greve. Enquanto isso, o Brasil, separa largas fatias de seu orçamento federal para investir em grandes reformas para a Copa do Mundo e Olímpiadas. Pasmem: só com a cidade de São Paulo serão gastos 6,2 bilhões de reais em reformas. Em contrapartida o Governo oferece o gasto de 4,2 bilhões de reais com os 70.000 Professores brasileiros.
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, início do período neoliberal de incentivo a empresas privadas e privatização das estatais, as IFES sofreram um processo de precarização estrutural e desvalorização docente tão profundo que caía no discurso de privatização da Educação. A reação, consequentemente, também foram as greves em períodos alternados. Ou seja, estamos, ciclicamente nos deparando com o mesmo problema (apesar de os contextos político-econômicos alterarem ou sincretizarem entre neoliberalismo, neodesenvolvimentismo e populismo).
Estes ciclos nos lembram o eterno trabalho vivido pelo personagem Sísifo, um mito grego, que é condenado por Hades a eternamente viver com a tarefa de chegar ao topo de um monte com uma rocha nas costas: sempre quando ele estava a alcançar o topo forças irresistíveis faziam a rocha rolar de volta ao solo. Tudo começava outra vez do solo ao cume.  Era o eterno retorno às dificuldades iniciais. Aparentemente o mesmo se passa entre o Governo e professores (e demais classes de trabalhadores) quando reivindicam a  valorização de suas carreiras.
Quanto mais nos aproximamos do 31 de Agosto mais temos que, necessariamente, atentar para os outros momentos históricos de Greve, atentarmos para o passado, para que a história não se repita. É o momento dos docentes perderem a paciência, tomarem o controle sobre a educação brasileira, radicalizarem o processo de lutas para não entrarem no eterno recomeçar. Se não radicalizarmos e alcançarmos nossas pautas agora, a punição ficará cada vez mais tortuosa, os ciclos de greves virão, outros processos de sucateamento das Universidades virão e continuaremos recomeçando, recomeçando e caindo no esquecimento da história, como se nunca tivéssemos começado qualquer processo de luta. A força que não deixa os professores avançarem, diferentemente da apresentada no mito, não é irresistível por ser facilmente identificada, logo, os professores e a sociedade são os únicos instrumentos que em conjunto podem combatê-la.

Certas pessoas perderão seus cargos e empregos 
O trabalho deixará de ser um meio de vida 
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência 
Quando os trabalhadores perderem a paciência¹


¹Mauro Iasi – Quando os trabalhadores perderem a paciência

Liziane Pinto Correia é estudante de Direito da UFPB e extensionista do Núcleo de Extensão Popular – Flor de Mandacaru (NEP)

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