As greves e o trabalho de Sísifo
O Governo, numa
espécie de tortura psicológica coletiva, empurra as possibilidades de
negociação com os professores das Instituições Federais de Ensino Superior
(IFES) contra a parede do prazo do ano orçamentário. Quanto mais próximos do
fim de Agosto, mais os estudantes e a sociedade civil ficam irritados: ora com
o Governo, ora com os Docentes. Trata-se de uma mistura confusa de indignação
com o descaso com a Educação Superior somada à desinformação (ou desinteresse)
da mídia que nos confunde a partir de porcentagens, gráficos, falsas
negociações etc.
Falar em Greves
significa conversarmos sobre categorias de trabalhadoras e trabalhadores que se
preocupam com, em primeiro plano, a desvalorização de sua profissão do ponto de
vista salarial, seguida de uma desvalorização da importância de sua carreira dentro
de um contexto social e econômico. Lembrem: falamos de Educação Superior e de Instituições Públicas.
A reação não
poderia ser outra: temos 52 IFES (de 57) com docentes em Greve. Fora outras 18
categorias de trabalhadores em Greve. Enquanto isso, o Brasil, separa largas
fatias de seu orçamento federal para investir em grandes reformas para a Copa
do Mundo e Olímpiadas. Pasmem: só com a cidade de São Paulo serão gastos 6,2 bilhões de
reais em reformas. Em contrapartida o Governo oferece o gasto de 4,2 bilhões de
reais com os 70.000 Professores brasileiros.
Durante o
governo de Fernando Henrique Cardoso, início do período neoliberal de
incentivo a empresas privadas e privatização das estatais, as IFES sofreram um
processo de precarização estrutural e desvalorização docente tão profundo que
caía no discurso de privatização da Educação. A reação, consequentemente, também
foram as greves em períodos alternados. Ou seja, estamos, ciclicamente nos
deparando com o mesmo problema (apesar de os contextos político-econômicos alterarem ou sincretizarem entre neoliberalismo, neodesenvolvimentismo e populismo).
Estes ciclos nos lembram o
eterno trabalho vivido pelo personagem Sísifo, um mito grego, que é condenado
por Hades a eternamente viver com a tarefa de
chegar ao topo de um monte com uma rocha nas costas: sempre quando ele estava a alcançar o topo forças irresistíveis faziam a rocha rolar de volta ao solo. Tudo começava outra vez do solo ao cume. Era o eterno retorno às
dificuldades iniciais. Aparentemente o mesmo se passa entre o Governo e
professores (e demais classes de trabalhadores) quando reivindicam a valorização de suas carreiras.
Quanto mais nos
aproximamos do 31 de Agosto mais temos que, necessariamente, atentar para os outros
momentos históricos de Greve, atentarmos para o passado, para que a história não se repita. É o momento dos docentes perderem a paciência, tomarem o controle sobre a
educação brasileira, radicalizarem o processo de lutas para não entrarem no
eterno recomeçar. Se não radicalizarmos e alcançarmos nossas pautas agora, a
punição ficará cada vez mais tortuosa, os ciclos de greves virão, outros
processos de sucateamento das Universidades virão e continuaremos recomeçando,
recomeçando e caindo no esquecimento da história, como se nunca tivéssemos
começado qualquer processo de luta. A força que não deixa os professores avançarem, diferentemente da apresentada no mito, não é irresistível por ser facilmente identificada, logo, os professores e a sociedade são os únicos instrumentos que em conjunto podem combatê-la.
Certas
pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência¹
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência¹
¹Mauro Iasi
– Quando os trabalhadores perderem a paciência
Liziane Pinto Correia é estudante de Direito da UFPB e
extensionista do Núcleo de Extensão Popular – Flor de Mandacaru (NEP)