quarta-feira, 6 de março de 2013

MULHERES, MULHERES, MULHERES: costurando, cuidando, protegendo, gestando - trabalhando por um novo mundo!



As mulheres trabalhadoras brasileiras estão inseridas no mercado de trabalho, fazendo parte da classe trabalhadora, no entanto, dentro desta, as relações de gênero tornam-se nítidas para além das questões trabalho-capital, trazendo questões biológicas inerentes às mulheres que as subalternizam e as inferiorizam quando o patrão-capital escolhe quem empregar, como empregar e por quanto ($) empregar a trabalhadora.
Fazendo um recorte de gênero, há informações de bastante relevância. Quando compara-se a taxa de desemprego de homens e mulheres, percebe-se que ela é maior entre as mulheres ao longo dos anos. Em 2012, o IPEA divulgou pesquisa que apresentou os seguintes dados: em 1996, a taxa de desemprego era de 6% para homens e de 10% para mulheres e, em 2009, essa porcentagem variou para aproximadamente 8% e 12%, respectivamente. Isso é mais um sintoma da opressão de gênero ainda presente na atual sociedade, refletida em diversos âmbitos, dentre eles o mercado de trabalho, espaço público historicamente ocupado pelos homens, e que, mesmo estando supostamente aberto às mulheres, não as garante igualdade material.
Outro fator a ser mencionado é o rendimento de trabalho, que apresenta diferenças significativas entre os dois subgrupos, de acordo com os resultados da pesquisa do Instituto referido. Observa-se que a média de rendimentos no ano de 1996, era na faixa de R$ 750,00 para mulheres e R$1150,00 para homens. Dentre as constantes oscilações anuais, manteve-se uma diferença bastante considerável entre os dois subgrupos, indicadora da cruel desigualdade enfrentada pelas mulheres também no mundo do trabalho.
Logo, evidencia-se a necessidade de que dentro/por/apesar de a classe trabalhadora ter mulheres trabalhadoras dentro das lutas pelas condições de trabalho, transversalmente a necessidade de lutar por questões específicas ao gênero feminino é primordial para fortalecer a própria classe trabalhadora. O centro da questão é o perceber-se mulher trabalhadora, oprimida historicamente pelo patriarcado, logo, dirigindo sua consciência de classe à sua consciência de gênero, a medida que sabe que é o “sexo fraco” ou o “sexo dócil” por uma construção social e, percebendo-se nesta condição luta por igualdade e por reparações, ou seja, luta por seus direitos. A classe trabalhadora tem dois sexos, os quais são tratados de  forma diferente pela legislação trabalhista, de forma diferente no ambiente de trabalho, de forma diferente na violação de seus direitos. Por isso, fizemos questão de nesse projeto evidenciar, também, o sexo das palavras-sujeitos, colocando trabalhador e trabalhadora lado a lado.
Dentro das relações de trabalho, é legado à mulher o trabalho reprodutivo, o qual, através da condição biológica, inferioriza e subordina a mulher, consequências que as deixam presas ao trabalho doméstico dentro do modo de produção capitalista, herança do patriarcado. Dentro da divisão sexual do trabalho, as qualificações profissionais das mulheres, na maioria das vezes, segue a lógica da divisão sexual, levando às mulheres a ocuparem espaços profissionais que externalizam o “cuidado com o outro”, a “paciência”, “a organização”, entre outras atribuições impostas ao sexo feminino, por isso, as mulheres ocupam, em grande maioria, os espaços das profissionais enfermeiras, assistentes sociais e empregadas domésticas, por exemplo.
Com essa inserção no mercado de trabalho, faz-se a necessidade de ocupar espaços políticos, espaços que as colocam em confronto às relações de trabalho ditadas pela metodologia capitalista de organização laboral, logo, as mulheres tem a necessidade de lutar por seus direitos enquanto classe trabalhadora, ocupando o espaço de combater duplamente as opressões que são reflexos da sociedade.
Dentro dessas profissões, dentro das contradições do capitalismo, parabenizamos a categoria das Empregadas Domésticas, mulheres em sua maioria, como as que ocupam um antigo lugar de trabalho na divisão sexual do mesmo, mas que, no entanto, organizam-se em luta por direitos, os quais, transversalmente, unem e contradizem, dialeticamente, as lutas contra o patrão, o machismo e o racismo. Pois, como o trabalho feminino vem ao longo da história sendo moldado, as mulheres dessa categoria vem ao longo da história ocupando o mesmo espaço na organização social: mulheres (trabalho doméstico), negras (trabalho escravo-doméstico), trabalhadoras (classe subalterna).
Reconhecendo-se nessa condição social, as mulheres estão organizadas para combater essas opressões e lutarem por seus direitos, os não dispostos em legislações e os já legislados mas não efetivados. As mulheres vêm ocupando os espaços de lutas, de sindicatos. São lideranças, são dirigentes sindicais de gênero e de classe.
A participação feminina no mercado de trabalho aumentou, analisando-se o período de 1996 a 2009, indo de aproximadamente 38% a 42%. Porém, isso não é sinônimo de mudanças nas condições trabalhistas. Os trabalhadores e trabalhadoras como um todo, enfrentam diversas dificuldades, e, as mulheres, em especial, enfrentam diariamente os reflexos de uma sociedade machista, inclusive e não por acaso no âmbito do mercado de trabalho, realidade evidenciada pelos dados apresentados, e que se estende para além deles. Uma forma de violência e opressão de gênero que até hoje se perpetua e diariamente encontra mecanismos e discursos para se camuflar e deslegitimar as reivindicações relativas à igualdade de gênero e melhoria das condições trabalhistas para todos e todas.
Liziane Pinto Correia – estudante de Direito da UFPB, extensionista do Núcleo de Extensão Popular – Flor de Mandacaru.
Jornal O Contraponto, 06 de Março de 2013.

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