terça-feira, 24 de agosto de 2010

Da Servidão Moderna


(França - Colômbia, 2009, 52min - Direção: Jean-François Brient)

Comentário do site oficial: “A servidão moderna é uma escravidão voluntária, consentida pela multidão de escravos que se arrastam pela face da terra. Eles mesmos compram as mercadorias que os escravizam cada vez mais. Eles mesmos procuram um trabalho cada vez mais alienante que lhes é dado, se demonstram estar suficientemente domados. Eles mesmos escolhem os mestres a quem deverão servir. Para que esta tragédia absurda possa ter lugar, foi necessário tirar desta classe a consciência de sua exploração e de sua alienação. Aí está a estranha modernidade da nossa época. Contrariamente aos escravos da antiguidade, aos servos da Idade média e aos operários das primeiras revoluções industriais, estamos hoje em dia frente a uma classe totalmente escravizada, só que não sabe, ou melhor, não quer saber. Eles ignoram o que deveria ser a única e legítima reação dos explorados. Aceitam sem discutir a vida lamentável que se planejou para eles. A renúncia e a resignação são a fonte de sua desgraça.”


http://www.youtube.com/watch?v=tZQ1jFeHkkE&feature=related 1/5

http://www.youtube.com/watch?v=9qydMGV-4Pk&feature=related 2/5

http://www.youtube.com/watch?v=8ZYAR3XbWso 3/5

http://www.youtube.com/watch?v=tg0qBJjrpLM&feature=related 4/5

http://www.youtube.com/watch?v=4SVDIxPRTH0 5/5

domingo, 22 de agosto de 2010




Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso,
Jogando meu corpo no mundo,
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto
E passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas,
Passado, presente,
Participo sendo o mistério do planeta
O tríplice mistério do "stop"
Que eu passo por e sendo ele
No que fica em cada um,
No que sigo o meu caminho
E no ar que fez e assistiu
Abra um parênteses, não esqueça
Que independente disso
Eu não passo de um malandro,
De um moleque do brasil
Que peço e dou esmolas,
Mas ando e penso sempre com mais de um,
Por isso ninguém vê minha sacola

.[misterio do mundo - novos baianos].

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Uns mais que os outros




Estas fotos são de um local no bairro do Róger (próximo à praça Antenor Navarro).

Em uma fábrica abandonada, no resto dela, vivem cerca de trinta famílias. Adultos, idosos e crianças dividem pequenos espaços separados por placas de madeira, lona e papelão. O sustento da maioria vem da coleta de lixo, com a revenda de papelão. Estão há quatro anos vivendo em condições muito precárias: fiações e infiltrações por todos os lados, lixo, falta de saneamento, falta de Estado. Para toda essa gente há apenas um banheiro, o qual fica trancado de chave - afinal, não é qualquer um que pode estar usando a qualquer hora o único que eles possuem. Parte das trinta famílias é da mesma família, todos vieram do Recife. O motivo ainda não sei ...

O que eu sei é que muitas coisas já chegaram lá. A maioria não é nada boa.


 


 


 

Artigo XXV. 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.

Declaração

Universal dos Direitos Humanos

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Choque do plano ideal com o material / parte ii


 

Nosso grupo de extensionistas tentou chegar ao diálogo com os moradores do Timbó através de uma parceria com a Prefeitura Municipal de João Pessoa que nos deu sinal para fazer visitas ao Centro de Referência Comunitária do Timbó. O primeiro problema é que, pelo difícil acesso à comunidade, o CRC fica fora da comunidade, ou seja, ...

Nas primeiras visitas dialogamos com a representante do Centro sobre o que era o projeto e os objetivos. Ela concordou e marcou uma primeira reunião com os moradores lá dentro da própria comunidade. Foi nosso primeiro contato de perto com os problemas visíveis e audíveis do local. Foi numa Associação de moradores - que segundo muitos não funcionava, mas possuía liderança. Estavam lá apenas mulheres, algumas com os filhos de colo, mais de vinte mulheres da associação de mulheres da comunidade. Fora alguns alunos e o professor ... nenhum outro homem.

Quando apresentamos nosso projeto notamos um distanciamento e então começaram a falar que vários projetos chegavam lá e nunca se concluíam e que todas já estavam cansadas desse discurso todo que encorajava "uns" para depois abandoná-los.

Tentamos mostrar que tínhamos uma proposta diferenciada, de diálogo, que não estaríamos ali para encaminhamentos jurídicos individuais, queríamos escutar o que havia de mais problemático ali na opinião das mulheres para que todos juntos pensássemos numa solução. Elas ficaram todas mudas. O professor insistiu na pergunta do que existia de problema ali que elas achavam que poderíamos ajudar a mudar. Um silêncio sintomático. Então começamos a propor uma outra reunião, em outro local, onde todas estivessem mais a vontade pra falar. Talvez uma reunião fora da comunidade. Uma mais corajosa confirmou que ninguém gostaria de correr o risco de falar algo ali dentro da comunidade. Enquanto isso alguns homens tentavam ver/ouvir o que se passava na reunião pela porta.

Encerramos a reunião marcando outra reunião numa creche que ficava um pouco mais pra fora da comunidade e, ao mesmo tempo, distante dos lares das mulheres que gostariam de falar algo. Assim correriam menos perigo.


 

"Temos perguntado, investigado, procurado saber as razões prováveis que levam os camponeses ao silêncio, à apatia, em face da nossa intenção dialógica? E onde buscar estas razões, senão nas condições históricas, sociológicas, culturais, que os condicionam? Admitindo uma vez mais as mesmas hipóteses para efeito de raciocínio, diremos que os camponeses não recusam o diálogo porque sejam, por natureza, refratários a ele. Há razões de ordem histórico-sociológica, cultural e estrutural que explicam sua recusa ao diálogo. Sua experiência existencial se constitui dentro das fronteiras do antidiálogo."
FREIRE, P.48, Extensão ou Comunicação?


 

No dia do novo encontro, quando estávamos todos juntos esperando o transporte da prefeitura, o professor recebe uma ligação da representante do CRC dizendo que a reunião estava desmarcada devido um tiroteio no local.

Depois desse evento, tentamos outro encontro, resultado: esvaziamento. As mulheres não compareceram. Apenas foram a representante do CRC e a da associação das mulheres. Nos disseram que quando saímos de lá nosso grupo foi apelidado de "Advogados das Mulheres". O que é um problema, primeiro porque esse título não condizia como nossa proposta coletiva, segundo porque mostra que não fomos bem "vistos" ou "quistos" por alguma forma de dominação interna que queira manter a situação do local. O certo é que muitas mulheres da comunidade sofrem violência doméstica, o que talvez seja o problema raiz da situação criada.

Começamos a tentar outro meio de atingir a comunidade. O que encontramos foi um anexo de uma Escola Integrada para Jovens, Adultos e Adolescentes (EIJAA) lá na comunidade que alfabetizava jovens e adultos. Depois de semanas tentando reuniões com a Diretora e depois com ela e a Professora conseguimos um contato direto com os alunos/moradores do Timbó.

No primeiro contato, depois de falarmos da proposta da extensão, eles levantaram vários problemas da comunidade, nenhum falou da violência, das drogas, da violência doméstica ... no entanto alguns atacaram o Estado e a Prefeitura, também falaram dos problemas ambientais e de saneamento básico.

Saímos de lá com o calendário apertado, pois, eles estavam entrando em recesso escolar.

A visita que marcamos depois dessa foi cancelada em cima da hora. A justificativa foi dada pelas chuvas que impossibilitavam a entrada na comunidade e a saída dos estudantes de casa para a escola. Remarcamos. Novamente, próximo ao nosso tão esperado dia para iniciarmos as dinâmicas de integração a Professora ligou avisando que não cederia mais os momentos de sua aula devido ao tempo para conclusão de conteúdo. Observação: os encontros aconteceriam uma vez por mês.

Contatamos uma parceira da prefeitura, da secretaria de desenvolvimento, para pedir uma explicação/satisfação e expor os acontecimentos. Elas nos contou que, também por ser ano eleitoral, a comunidade fica dividida entre lideranças internas, e que, uma dessas lideranças não estava permitindo esses encontros porque acreditava que a representante do CRC era a responsável pelo engajamento das pessoas na extensão, e pela rixa e mil outros problemas do local, estávamos realmente freados esse ano , não poderíamos dar continuidade ao projeto lá.

O que foi uma experiência válida. Inesperada, já que, nos outros dois bairros (Mangabeira e Jardim Veneza) as coisas estavam acontecendo, não como o planejado, mas moldando o planejado. Indo bem. A falta de acesso (via dupla) do nosso grupo à comunidade e da comunidade ao nosso grupo nos faz refletir quanto complexas são as relações interpessoais e os meios de dominação reproduzidos pelas mesmas pessoas que já se encontram dominadas/oprimidas. E então voltamos ao Paulo Freire, é difícil o processo de conscientização. E assim os opressores oprimem tanto os oprimidos e tornam tão comum os discursos de opressão que os próprios oprimidos viram opressores.


 

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Extensão ou Comunicação ??????

Por isto mesmo, a expressão 'extensão educativa" só tem sentido se se toma a educação como prática da 'domesticação'. Educar e educar-se, na prática da liberdade, não é estender algo desde a "sede do saber", até a "sede da ignorância" para "salvar", com este saber, os que habitam nesta.

Ao contrário, educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem - por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais - em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais.

p.25, 1982, Paulo Freire

choque do plano ideal com o material / parte i


(In)Felizmente a complexidade da vida faz com que as coisas planejadas tendam a se moldar à realidade em que elas são aplicadas. E isso foi mais ou menos o que aconteceu com o nosso plano do projeto para 2010.

Primeiramente, queria expor os aspectos físico/estruturais que poderiam servir de barreira para que nós, estudantes e professores, chegássemos a comunidade do Timbó. Logo em seguida tentar entender/citar os impedimentos sócio/políticos e culturais.

A comunidade do Timbó nasceu há um pouco mais de cinquenta anos numa área "atrás" do bairro Bancários. No local há um rio que possui o mesmo nome. Foi na época em que em suas vizinhanças nao havia mais nada além de terra que no momento estava sendo retirada para construção de algumas avenidas da cidade. Foi em volta desse rio que a comunidade começou a crescer, sem estrutura ou assistência estatal.

Como a comunidade não é calçada, as ruas ainda são de terra¹- e o agravante é que sua entrada é uma ladeira - e sem falar das épocas de chuva que inviabilizam ainda mais o acesso ao local, e por isso não chegam lá alguns serviços como o do recolhimento de lixo. Resultado: lixo no rio. Lixo nos espaços vazios. Quando chove e por causa do lixo o rio extravasa e invade as casas de alguns moradores. Por chover, extravasar lixo e o rio invadir outros problemas surgem, como doenças. Por serem difíceis a entrada e saída de pessoas é difícil o contato com os postos de saúde.

A comunidade é considerada um aglomerado subnormal, não sei bem o que isso significa, mas sei que pelo estranhamento à palavra ... simplesmente não discordo. É uma comunidade complexa desde o surgimento. Acho que até agora deu para passar uma pequena impressão minha do local. Vale lembrar que ele também não é feito só de problemas, também é feito de pessoas - preocupadas com o lugar onde moram, atores e atrizes esperando seus papéis para transformação do local.

No próximo post tentarei construir a imagem dos moradores, o que abarcará as disputas políticas, os problemas sociais e outras questões que tivemos acesso. Daí então, não sei se no mesmo, resumirei nossas tentativas de diálogo com a comunidade que aconteceram várias vezes em locais distintos.

iimaagoo

Todo universo não é senão um depósito de imagens e sinais aos quais a imaginação dará um lugar e um valor relativo; é uma espécie de alimento que a imaginação deve digerir e transformar. Todas as faculdades da alma humana devem estar subordinadas à imaginação que as requisita todas ao mesmo tempo.

~ escritos sobre arte