terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Apesar de 2012, para além de 2013


O fim do ano é o momento mais propício para se olhar para o tempo passado, se pensar nos momentos vividos até aqui, avaliar um por um, e, então, planejar os próximos passos, com mais confiança e esperança nos acertos vindouros.
Apesar de tantas violações aos Direitos Humanos em 2012, os processos de fortalecimento das lutas, integração das identidades e publicização das conquistas aconteceram. Marcaram a vida de muitos brasileiros e ficarão na memória de todos que andam aos passos da mudança.
Para exercitar nossa memória, citarei alguns acontecimentos marcantes aqui na Paraíba. Acontecimentos que, apesar de dolorosos, organizaram pessoas para a reconstrução de um novo ano, sem os mesmos desafios; pessoas prontas para impedir que novas injustiças semelhantes aconteçam e fazer valer toda a caminhada de 2012, para além de 2013.
Temos o caso de Enver José - processado injustamente pelos empresários de ônibus da capital-, perseguição política notória por ter liderado centenas de estudantes em passeatas, pacíficas, contra o abuso de poder e excessivo aumento das passagens de ônibus sem a contraprestação de melhores serviços. Hoje, depois de ter várias audiências remarcadas, percorrendo o ano inteiro nessa angústia, Enver foi absolvido.
Os índios Tabajaras continuam cercados pela empresa Elizabeth. No início deste ano, foi relatado ao Ministério Público Federal casos de violência privada, sob o comando da empresa, a qual ameaçou, por meio de força física e psicológica, os índios a se retirarem de suas próprias terras. Os índios continuam na mesma situação de insegurança.
A chamada reurbanização do Bairro São José não aconteceu. Os moradores do bairro conseguiram barrar o projeto inicial, colocado de cima pra baixo, sem diálogo, sem construção com eles - os principais envolvidos. O projeto ameaçava a destruição de algumas casas, a remoção de algumas famílias, a troca de uma casa de grandes dimensões por outra de tamanho padrão e muito menor.
Um caso de repercussão nacional foi o estupro coletivo de 05 mulheres na cidade de Queimadas, no interior da Paraíba. Foi um crime planejado com antecedência, numa cidade em que não é raro as mulheres sofrerem tanta violência. As audiências de julgamento já aconteceram, a reparação para as famílias das vítimas nunca se concretizará. No último dia 04 de Dezembro, mulheres do Campo e da Cidade reuniram-se no centro da nossa capital, em memória das mulheres que sofreram violência e em luta por políticas públicas que concretizem a proteção à vítima.
Por último, relembro o despejo de mais de 40 famílias da favela do Gadanha, próxima à bica, que estavam em seus barracos num terreno abandonado e foram despejados pela força policial, sob o comando da prefeitura municipal. Mulheres e crianças de colo, jovens e adultos foram atirados novamente à rua. Hoje vivem sob outra ameaça de despejo, moram numa escola abandonada no centro da cidade, nenhuma política de reparação é oferecida, apenas chegam ameaças.
O tempo por si é pedagógico, por isso é importante olhar para todos esses acontecimentos do ano. Aprendemos com as experiências passadas e por isso realizaremos novas conquistas.
E em memória de tantas pessoas sofredoras deste 2012, é que devemos planejar o nosso 2013. Não nos contentaremos com a fé de que as coisas serão resolvidas logo, mas sim com o compromisso de estar ao lado dos que lutam, com eles dividindo os próximos passos, no objetivo comum de um próspero ano novo.

Liziane Correia é estudante de Direito da UFPB e do Núcleo de Extensão Popular Flor de Mandacaru