Elizabeth, as cores dos trabalhadores quebrarão o seu cinza
Feijão, macaxeira, batata-doce, mamão, banana, graviola, limão, manga, mangaba, jaca, maracujá, côco, sapoti, homens e mulheres trabalhando.Trabalho, terra e moradia. Estas cores são produzidas diariamente pelas famílias do Assentamento João Gomes, da grande Mucatu (que ocupa partes de Alhandra, Conde e Pitimbu), uma das primeiras áreas desapropriadas para a Reforma Agrária na Paraíba – foi na década de 70. São estas famílias que estão resistindo à empresa de cimento Elizabeth.
E pelo quê resistem? Ora, antes as sementes, os trabalhadores! Eles também fincaram suas raízes naquela terra, são três gerações de agricultores - avôs, filhos e netos – que nasceram, cresceram e brotaram tal quais as hortaliças e frutas colhidas por eles. Não se trata apenas de uma propriedade.
A variedade de frutas e hortaliças produzidas são escoadas para as feiras agroecológicas e para o Ceasa em João Pessoa, e eles também abastecem Recife, Natal e Fortaleza. A área que a empresa reivindica é de 2.400 hectares o que compromete boa parte da produção, da venda, da subsistência e da moradia de mais de 100 famílias, o trabalho de cerca de 10.000 pessoas. Sem contar que nesta região há a maior reserva de águas doces da região Nordeste, a instalação dá fábrica de cimento também comprometeria a fonte natural. Outro fato importante é que alguns dos loteamentos visados integram parte de terras indígenas que estão em luta pelo processo de demarcação, com isso, os índios Tabajaras, também, estão inseridos no conflito.
A Elizabeth conseguiu comprar lotes de terras da região de Mucatu, os quais a venda é proibida. As terras para a reforma agrária não podem ser comercializadas, mas, mesmo assim, ela conseguiu comprar alguns lotes, e, em pouco tempo, conseguiu decisões judiciais para despejar os trabalhadores. Os despejos foram violentos, segundo os relatos dos moradores e da imprensa, com a presença de policiais militares e milícias privadas que vigiam a ocupação. Uma sensação de medo e insegurança ronda essa região, os moradores, desprotegidos, temem outras ações mais violentas.
O MPF já pediu a reintegração de posse à Justiça Federal. Enquanto esperamos os processos correrem judicialmente, visualizamos o quanto este caso vem sendo invisibilizado. Apesar do esforço dos parceiros que estão em defesa dos agricultores em tornar o caso conhecido, as mídias em geral não deram a devida importância, logo, ele não tomou tamanha repercussão dentro da capital paraibana nem em outros locais.
O fato é que são muitas pessoas correndo o perigo de perder tudo o que conquistaram. É como se o único lugar da região (Conde, Alhandra e Pitimbu), que a empresa podia comprar lotes de terras para sua instalação, fosse justamente a que ela pudesse destruir de mais formas. Será que não existia nenhum estudo de região que indicasse esses fatores? Seria falta de técnicos comprometidos, falta de compromisso com a sociedade e com o meio ambiente, meta desenfreada por lucros?
O concreto, e positivo, nesta situação, é que os agricultores e os índios estão organizados em defesa dos seus direitos à terra e ao trabalho, não estão esperando de braços cruzados que outros decidam sobre o que é deles, construído e vivido por eles. Um espectro de esperança e vitória já ronda aquela região. E ele tem as cores dos homens e mulheres que pisam em chão fértil, de terra, de luta, de fruta. E que farão de tudo para não permitir a vinda da fria, da ambiciosa, da cega, Elizabeth.
Liziane Correia